Início POLICIAL Acusado de participação no 8/1 é preso em ato pela anistia

Acusado de participação no 8/1 é preso em ato pela anistia

“Patriota” de 58 anos estava foragido desde 2023, acusado de descumprir medidas cautelares; ele foi preso durante manifestação pela anistia

Considerado foragido pelo STF desde 2023, o analista de sistemas Fabio Beltrão Soldani, de 58 anos, foi preso durante um ato pela anistia aos manifestantes do 8 de Janeiro. O “patriota” foi detido durante manifestação na Avenida Paulista, no último dia 16/3. Na ocasião, Bolsonaro discursou em Copacabana, mas também houve protestos em São Paulo.

Soldani foi abordado pela Polícia Militar quando estava sentado na calçada da Avenida Paulista. Com os documentos do homem, a PM verificou a existência de um mandado de prisão contra ele. O analista de sistemas foi conduzido a uma delegacia e, em seguida, à carceragem da Superintendência da Polícia Federal. Em uma audincia de custódia promovida pelo Supremo, Soldani disse estar “morando na rua” e que foi à manifestação para “pedir ajuda”.

No dia 9 de janeiro de 2022, ele foi detido no acampamento em frente ao Quartel General do Exército. Ele ficou 11 dias no Complexo da Papuda e foi libertado mediante o uso de tornozeleira eletrônica. A liberdade provisória de Soldani foi revogada pelo ministro Alexandre de Moraes, em 2023, por descumprimento das medidas cautelares.

Na audiência de custódia, Soldani disse ter ido de carona para Brasília em dezembro de 2022, com a intenção de morar e trabalhar na cidade. Ele morava no Nordeste, onde trabalhava como recepcionista em hotéis e resorts. “Atualmente, eu estou sem endereço. Eu morei muito tempo no Nordeste porque falo italiano, falo inglês. E, quando era mais novo, tinha muitas oportunidades de trabalho em hotel, então morei 15 anos no Rio Grande do Norte”, relatou.

Após a prisão, Soldani disse ter trabalhado em uma fazenda no Distrito Federal e depois seguido para Natal, capital do Rio Grande do Norte. Ele teria se deslocado para a Avenida Paulista também de carona para participar do ato. “Eu fiquei 11 dias na Papuda, e aí ficou muito difícil a minha vida. Então, eu sempre procurava alguma alternativa de sobrevivência com ‘bicos’. Eu estava na Avenida Paulista ontem exatamente para pedir ajuda para custear alguma moradia para mim”, disse o homem.

“Eu estava com todas as minhas coisas pessoais, roupas e documentos, pedindo ajuda na Avenida Paulista ontem para tentar, se não conseguisse, pelo menos por dois ou três dias. Então, eu não tenho endereço no momento. Estava tendo um evento pedindo anistia, então pensei que conseguiria encontrar a empatia das pessoas lá para me ajudarem de alguma forma”, argumentou.

Medidas cautelares

O “patriota” alegou ainda ter descumprido a medida cautelar de permanência no Distrito Federal após ganhar uma passagem de ônibus para Natal (RN), onde já havia morado por 8 anos e meio. Sobre a retirada da tornozeleira eletrônica, outra medida descumprida, Soldani disse ao juiz auxiliar do STF que o equipamento apresentou problemas técnicos.

“Depois de algum tempo, a tornozeleira não carregava mais. Eu procurei de várias formas, várias vezes, se ela pegava carga. Eu sem advogado, sem emprego, sem comida, sem família, sem celular, sem parente. Uma pessoa me convidou para ficar como caseiro numa propriedade dela em Pernambuco, em Ipojuca. Eu aceitei. Eu não tinha escolha, porque não tinha mais dinheiro para continuar pagando a pensão [em Natal]”, relatou.

Acordo com a PGR

Durante a audiência de custódia realizada na segunda-feira, Soldani aceitou um acordo de não persecução penal oferecido pela Procuradoria Geral da República (PGR). No instrumento processual, o acusado confessa a prática do delito e concorda em cumprir medidas alternativas para evitar a prisão. Ao juiz auxiliar do STF, Soldani pediu a exclusão de duas exigências feitas pela PGR: o pagamento de uma multa e a prestação de serviços comunitários.

“A necessidade de exclusão da prestação pecuniária decorre do fato de que ele não aufere nenhuma renda. E a exclusão da prestação de serviços, de modo semelhante, decorre do fato de ele necessitar realizar pequenos bicos ou conseguir ajuda (doação) para se alimentar a cada dia. Em suas palavras, para conseguir, por exemplo, ‘varrer rua’, seria necessário que ele tivesse podido dormir na noite anterior e ter minimamente se alimentado. Porém, atualmente nem isso ele tem garantido. Precisa se virar para sobreviver, ‘um dia de cada vez’. Logo, não tem como se comprometer com obrigações que ele já sabe que não conseguirá cumprir, por mais que deseje”, observou a Defensoria Pública da União (DPU).

Alegando ter 1,82m de altura e estar pesando 66 quilos, 14 quilos abaixo do seu peso normal, o “patriota” solicitou ao STF sua permanência na carceragem da Polícia Federal até a conclusão do acordo de não persecução penal. A princípio, Soldani deveria ser transferido para o sistema prisional de São Paulo. “Sinceramente, eu me conheço muito bem e temo pela minha segurança emocional e física se eu sair daqui para outro lugar. Eu não sei se o Senhor me entende. Aqui eu me sinto relativamente tranquilo e bem”, disse o acusado.

Metrópoles

Exit mobile version