Início POLÍTICA Senador de Rondônia que admitiu fraqueza após ‘‘rasteira’’ de Marcos Rogério agora...

Senador de Rondônia que admitiu fraqueza após ‘‘rasteira’’ de Marcos Rogério agora ataca STF, OAB, MP, Câmaras e ALE

Jaime Bagattoli, do PL, também diz que Jair Bolsonaro, seu correligionário, deve voltar em 2026, embora ex-presidente esteja inelegível até 2030

Porto Velho, RO – Jaime Bagattoli, senador pelo PL de Rondônia, tornou-se uma figura emblemática da contradição política no Brasil. Em sua participação no programa Papo de Redação, na Parecis FM, o parlamentar adotou um tom crítico contra praticamente todas as instituições do país. Ministério Público, OAB, Supremo Tribunal Federal (STF) e até as Casas Legislativas foram alvos de suas declarações inflamadas. Ele classificou os gastos públicos como “vergonhosos” e clamou por uma reforma administrativa, mas em nenhum momento incluiu a si mesmo ou os próprios privilégios do Senado Federal na equação.

Bagattoli foi enfático ao condenar os custos do poder público: “É vergonhoso o que é gastar o que a gastança que nós temos nas câmaras de vereadores, assembleia legislativa, Câmara Federal e Senado.” A fala, no entanto, foi cuidadosamente genérica. Em nenhum momento o senador mencionou os altos custos associados ao seu próprio mandato, que incluem um salário superior a R$ 33 mil, benefícios como auxílio-moradia e verba de gabinete, além de uma estrutura administrativa que pesa sobre o bolso do contribuinte.

É nesse silêncio calculado que reside a incoerência. Ao falar dos outros, Bagattoli cria uma narrativa que parece excluí-lo das mazelas que critica, como se ele fosse um espectador indignado, e não parte do sistema que consome bilhões de reais por ano. O Senado, por exemplo, opera com um orçamento de mais de R$ 6 bilhões anuais, valor que dificilmente encontra paralelo em sua justificativa prática. Contudo, essa é uma discussão que o senador evita aprofundar.

Além das críticas aos gastos públicos, Bagattoli apontou o dedo para o Ministério Público e a OAB, acusando-os de omissão em relação aos presos de 8 de janeiro. “Não sei onde está a nossa OAB. O Ministério Público precisa fazer mais”, afirmou. No entanto, essa postura combativa parece se limitar ao discurso. O mesmo senador que ataca múltiplas instituições adotou uma posição submissa quando perdeu a presidência do diretório estadual do PL para Marcos Rogério, numa decisão respaldada pelo presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto. À época, Bagattoli admitiu publicamente sua impotência: “Eu não tenho forças para fazer frente a isso.”

Enquanto se mostra disposto a desafiar ministros do STF e até mesmo a estrutura política do país, ele não conseguiu resistir ao centralismo autoritário de sua própria legenda. Essa dualidade expõe um padrão de “valentia seletiva”, onde a força do discurso contrasta com a inação prática.

Bagattoli também relativizou os atos de vandalismo e destruição ocorridos em 8 de janeiro. Para ele, os presos não são terroristas porque “não tinham armas” e foram vítimas de uma “grande injustiça”. Essa argumentação ignora a gravidade dos ataques, que incluíram depredação das sedes dos Três Poderes e tentativa de subverter o resultado das eleições.

O discurso do senador ganha contornos ainda mais problemáticos quando confrontado com episódios recentes de radicalismo político, como o plano frustrado de assassinato do presidente Lula, do vice Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. Ao insistir na defesa dos golpistas, Bagattoli reforça um perigoso sinal de complacência com práticas que ameaçam diretamente o estado democrático de direito.

Adicionalmente, o senador segue exaltando a figura de Jair Bolsonaro, seu principal aliado político, mesmo diante da inelegibilidade do ex-presidente, que se estende até 2030. Essa situação, que já fragiliza o movimento bolsonarista, pode ainda ser agravada por novos desdobramentos jurídicos, como o indiciamento de Bolsonaro pela Polícia Federal em um plano que envolvia militares com o objetivo de assassinar lideranças do governo. Apesar disso, Bagattoli mantém um discurso alinhado ao bolsonarismo, ignorando os danos à democracia causados por essas ações e os custos políticos de apoiar uma liderança inelegível e envolta em suspeitas graves.

Embora critique a “gastança” das instituições, Bagattoli não propôs qualquer ação concreta para cortar privilégios ou rever a estrutura dispendiosa do Senado. Ele não mencionou, por exemplo, a possibilidade de reduzir os custos de seus próprios gabinetes, reavaliar os auxílios pagos aos parlamentares ou mesmo liderar um movimento para enxugar a estrutura da Casa. Em vez disso, o senador prefere direcionar sua indignação para fora, omitindo deliberadamente o peso que ele próprio representa para o contribuinte.

Essa postura não é apenas incoerente, mas também estratégica. Ao evitar discutir seus próprios custos, Bagattoli se protege das críticas e alimenta a percepção de que ele está acima do sistema que condena. No entanto, a realidade é clara: a reforma administrativa que ele tanto defende deveria começar pelos privilégios do Legislativo, incluindo o Senado.

A posição editorial do Rondônia Dinâmica é inequívoca: atacar as instituições sem assumir a responsabilidade pelos próprios atos é uma prática que fragiliza a democracia. A conduta de Bagattoli, ao criticar Ministério Público, OAB e STF enquanto relativiza atos antidemocráticos e ignora os privilégios do Senado, é o retrato de uma política pautada no discurso vazio.

Se o senador deseja, de fato, contribuir para a construção de um Brasil mais justo e eficiente, ele precisa começar pelo próprio exemplo. Reduzir os custos do Senado, abandonar a retórica de vitimização e respeitar as instituições democráticas são passos indispensáveis. O Brasil não pode se dar ao luxo de tolerar lideranças que falam muito e fazem pouco.

Bagattoli, como representante eleito, tem a oportunidade de demonstrar verdadeira coragem política. Mas isso exige mais do que palavras. Exige ação. Exige coerência. E, sobretudo, exige respeito ao pacto democrático que sustenta o país. Enquanto isso não acontecer, o discurso inflamado de hoje continuará sendo apenas isso: palavras ao vento.

Os 10 melhores momentos da entrevista de Jaime Bagattoli na rádio Parecis FM:

Crítica aos gastos públicos

“É vergonhoso o que é gastar o que a gastança que nós temos nas câmaras de vereadores, assembleia legislativa, Câmara Federal e Senado.”

Sobre a reforma administrativa

“Os políticos desse país tiveram coragem de fazer uma reforma administrativa, porque sem uma reforma administrativa os custos do poder público é muito vergonhoso.”

Defesa de Jair Bolsonaro

“Eu digo para você, o Bolsonaro vai ser candidato em 2026. É inexplicável você dizer que vai deixar inelegível uma pessoa que fez uma reunião com embaixadores.”

Críticas ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes

“Nós não podemos ficar de joelhos para o Supremo Tribunal Federal, isso é uma covardia. Alexandre de Moraes ataca, julga, e decide, sem primeira nem segunda instância.”

Defesa dos presos de 8 de janeiro

“Essas pessoas não são terroristas. Nunca vi terrorista sem arma. Uma pessoa escreveu ‘perdeu, Mané’ e leva 14 anos de cadeia. Que país é esse?”

Sobre a privatização da BR-364

“Nós só temos uma única rodovia nesse estado. Se cair uma ponte, isola três estados. Não poderia ser privatizada.”

Críticas ao tráfico de drogas e decisão judicial

“Vi um ministro dizer que uma arma de traficante é ferramenta de trabalho. É inacreditável que chegamos a esse ponto.”

Preocupação com o pequeno produtor rural

“Nós precisamos ajudar o pequeno produtor. Estão matando essas pessoas, tirando elas de suas propriedades e levando para a ilegalidade.”

Sobre a falta de candidatos do PL em Porto Velho

“Se eu fosse o presidente estadual do partido, o PL teria tido candidato na capital. Mas houve pressão de fora, e deu no que deu.”

Indignação com a situação da saúde pública

“Quando chego no João Paulo II, não tenho coragem de entrar. Aquilo é desumano. Pelo amor de Deus, parem de gastar com festas e coloquem dinheiro na saúde.”

Exit mobile version