Com a falta de chuvas significativas, o nível do Rio Madeira em Porto Velho chega a 67 centímetros, o mais baixo desde 1967
O Rio Madeira, um dos mais extensos e importantes do Brasil, atingiu nesta terça-feira (10) o nível mais baixo da sua história em Porto Velho, registrando 67 centímetros, conforme dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB). A seca extrema, aliada à ausência de previsões de chuvas significativas, provoca uma crise hídrica que afeta mais de 50 comunidades ribeirinhas que dependem diretamente do rio para sua subsistência.
O engenheiro hidrólogo Guilherme Cardoso, do SGB, alerta para o prolongamento do período de estiagem, semelhante ao de 2023, quando as chuvas só retornaram de forma significativa no final de outubro. “Os modelos de previsão não indicam chuvas significativas para os próximos 15 dias”, afirma Cardoso. As projeções para os próximos três meses também não trazem boas notícias, apontando para um cenário de seca prolongada e agravada pela antecipação da vazante do Rio Madeira.
Diante da situação, medidas como a suspensão da navegação noturna, iniciada em 11 de julho, e a declaração de escassez hídrica pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) não impediram que comunidades ribeirinhas ficassem isoladas. A falta de água potável é tão severa que a Defesa Civil Municipal e assistentes sociais começaram a distribuir carregamentos de água para mais de 700 famílias em 16 comunidades. Sem acesso a água encanada, os ribeirinhos dependem de poços artesianos ou da drenagem do próprio rio, que agora se encontra a quilômetros de distância de suas casas.
Foto: Defesa Civil/Divulgação
A escassez de água se reflete no cotidiano das famílias, que precisam sobreviver com menos de 50 litros de água por dia, quantidade inferior aos 110 litros recomendados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para atender às necessidades básicas de uma pessoa. Para tratar a pouca água disponível, as comunidades recebem kits de hipoclorito de sódio para desinfecção.
Além das dificuldades para consumo humano, a seca também afeta a navegação e o transporte na região. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) mantém um plano de manutenção aquaviária para a hidrovia do Rio Madeira, com dragagens regulares para evitar a interrupção total da navegação.
A crise hídrica ainda ameaça a geração de energia nas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. Ambas já operam com capacidade reduzida: Jirau com 20% das turbinas e Santo Antônio com apenas 14%. No ano passado, as duas usinas foram desligadas em outubro, após a vazão do rio cair pela metade. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que sete unidades geradoras da usina de Santo Antônio operam com apenas 490 MW, e Jirau com dez unidades geradoras, totalizando 260 MW. Embora o ONS descarte um risco imediato de insegurança energética, o cenário é de atenção.
“Hoje, a operação dessas hidrelétricas está com muita restrição e, em breve, pode ser interrompida completamente, levando não só a uma crise hídrica, mas também a uma restrição energética”, alerta Cardoso.
Fonte: Natália Figueiredo – Portal SGC