Acusado de falsificar HC para livrar sócio de Marcola da cadeia, empresário Sandro Moretti tem longo histórico com estelionato, segundo MPSP
São Paulo – O empresário Sandro Moretti, de 49 anos, é acusado de liderar o esquema que tentou enganar a Justiça para soltar o narcotraficante Gilberto Aparecido dos Reis, o Fuminho, apontado como sócio Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Com passagem por estelionato, Sandro foi capturado pela Polícia Militar (PM), na Rua Donato Armelin, em Presidente Prudente, no interior paulista, na tarde de segunda-feira (17/6). Na ocasião, os agentes pararam o carro dele e descobriram que o empresário tinha um novo mandado de prisão preventiva.
À Justiça, o réu alega fazer quimioterapia para tratar um câncer de intestino, que já estaria em metástase, e pede para cumprir prisão domiciliar. A solicitação não foi apreciada até a publicação desta reportagem.
Sandro e dois comparsas são réus por fraudar um habeas corpus, em dezembro de 2022, para tentar tirar Fuminho da cadeia. O esquema, no entanto, foi descoberto antes de a falsa ordem ser cumprida. Condenado a mais de 26 anos de prisão, o sócio de Marcola é considerado um dos maiores narcotraficantes do país.
Ficha criminal
Figura conhecida da polícia local, Sandro é dono de uma longa ficha de antecedentes criminais e está envolvido em mais de 50 processos, em especial por estelionato. Com diversas condenações, o empresário chegou a ficar preso nos anos 2000 e estava em liberdade.
“Consulta nos sistemas judiciais demonstram que as fraudes perpetradas por Sandro são muito variadas e lesam tanto o Poder Judiciário, quanto particulares incautos”, registrou o Ministério Público de São Paulo (MPSP), ao denunciá-lo, no dia 10 de junho, pelo caso do falso HC em favor de Fuminho.
Entre as passagens, consta episódio em que o empresário foi autuado em flagrante após se apresentar como advogado em uma delegacia. Embora não tenha registro funcional, Sandro declara ser bacharel em direito.
Em maio de 2024, ele também foi alvo de mandado de busca e apreensão em inquérito que investiga um suposto esquema de venda de CNHs falsas.
Falso HC
Na denúncia, o MPSP afirma que, uma vez em liberdade, Sandro abriu um escritório de fachada, a MM Assessoria Consultoria Empresarial, e cooptou advogados para participar dos seus esquemas. Segundo a promotoria, o objetivo era “buscar oportunidades para prática de crimes que proporcionassem lucro ou prestígio perante membros do crime organizado”.
Em 15 de dezembro de 2022, o grupo teria falsificado a assinatura de uma desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e incluído a decisão falsa a favor de Fuminho. Ao rastrear o IP do documento falso, a investigação descobriu que a falsificação aconteceu no escritório de Sandro.
Os outros denunciados são os advogados Augusto Cesar Moraes Casaro, dono do login usado para inserir a decisão falsificada nos autos digitais, e José Pedro Candido de Araújo, que acessou o processo em horário próximo ao da fraude, de acordo com o MPSP.
A denúncia foi aceita pela juíza Máriam Joaquim, do Foro de Itapecerica da Serra, na última quinta-feira (13/6). Na decisão, a magistrada também decretou a prisão preventiva de Augusto, cujo paradeiro é desconhecido. Já o terceiro réu responde ao processo em liberdade.
Quem é Fuminho
Investigações sobre o PCC apontam que Fuminho tem ligações com a ‘Ndrangheta, a máfia da Calábria, na Itália, e controlava parte do esquema para escoar cocaína para a Europa a partir do Porto de Santos, no litoral paulista.
Segundo investigadores, o narcotraficante também é amigo de infância, mantém relação próxima com Marcola e esteve diretamente envolvido no plano cinematográfico para resgatar o chefão do PCC da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, em 2018.
À época, o MPSP levantou que o criminoso havia formado um exército de homens treinados em suas fazendas na Bolívia e contava até com soldados africanos, experts em armas pesadas.
O narcotraficante foi denunciado, ainda, de ser o mandante das execuções Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, integrantes da mais alta cúpula do PCC, que foram vítimas de uma emboscada em Aquiraz, na Grande Fortaleza, em fevereiro de 2018. O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), no entanto, o absolveu dessa acusação.
Quando estava foragido, Fuminho chegou a figurar na lista de criminosos mais procurados do país. Ele foi preso em Moçambique, em operação internacional coordenada pela Polícia Federal, em 2020, com participação do Departamento Antidrogas dos Estados Unidos (DEA) e da polícia moçambicana.
Fonte: Felipe Resk / Metrópoles