Profissionais que já cuidaram de pacientes paliativos lembram os remorsos e culpas que mais ouviram na fase final de uma vida
“Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida”, disse Steve Jobs, cofundador, presidente e diretor executivo da Apple, em um discurso de graduação na Universidade de Stanford.
É no trabalho que passamos boa parte do nosso tempo e é nesse ambiente em que estão muitos arrependimentos, segundo Raphael Brandão, chefe do serviço de oncologia da Rede São Camilo, que trabalha de perto com pacientes que precisam de cuidados paliativos.
“As frases de arrependimento que mais escuto dos pacientes em fase terminal frequentemente giram em torno de não terem passado tempo suficiente com suas famílias e amigos, de terem trabalhado demais e de não terem seguido seus sonhos ou paixões”, diz o médico. “Esse tipo de reflexão é um poderoso lembrete da importância do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.”
Os cinco maiores arrependimentos
Algumas pessoas também lamentam não ter feito o suficiente por si mesmas, segundo reportagem da CNBC, que cita como exemplo a obra da Bronnie Ware, autora do livro “Os cinco maiores arrependimentos dos que morrem” e ex-trabalhadora de cuidados paliativos.
Ware passou oito anos administrando ajuda a pessoas que lutavam contra doenças graves, muitas das quais se tornaram fatais, segundo o veículo americano. Ela prestou atenção ao remorso que as pessoas expressavam em seus leitos de morte e pensou que havia uma “grande lição” que as pessoas poderiam aprender com elas, disse ela ao participar do programa de rádio britânico “The Chris Evans Breakfast Show” no ano passado. Seu livro detalha as cinco frases que ela ouvia com mais frequência:
- Eu gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim;
- Eu gostaria de não ter trabalhado tanto;
- Eu gostaria de ter tido a coragem de expressar meus sentimentos;
- Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos;
- Eu gostaria de ter me permitido ser mais feliz.
O primeiro arrependimento é aquele que ela ouvia com mais frequência. “Quando as pessoas percebem que sua vida está quase no fim e olham para trás com clareza, é fácil ver quantos sonhos não foram realizados por causa da influência de outras pessoas”.
O curso universitário que fez sem gostar, a carreira escolhida pelos pais ou até mesmo deixar de conhecer o mundo para ficar perto da família, são alguns dos exemplos que ela ouviu.
A férias que não vem
A música “Epitáfio”, do Titãs, fala sobre a vontade de amar mais, de chorar mais e de ver o sol nascer, sentimentos e momentos que muitos ignoram durante a vida.
O período de descanso é um desses momentos ignorados. Nos EUA, por exemplo, a CNBC traz o dado do estudo Harris Poll com 1.170 trabalhadores norte-americanos que mostra que 78% desses funcionários estão atualmente deixando o tempo de férias de lado para progredir profissionalmente.
No Brasil, essa realidade não é diferente. De acordo com uma pesquisa realizada pela Férias & Co., empresa de benefício de viagens, 54,2% dos funcionários disseram que já venderam as férias ao menos uma vez. Ao todo, o questionário obteve 586 respondentes com idades entre 18 e 54, que ocupam os cargos de analistas até diretores.
“Um dos resultados mais expressivos do estudo brasileiro mostra que 92% dos entrevistados acreditam que os momentos de lazer e descanso podem beneficiar a saúde mental, mas muitos abdicam das férias por falta de motivação ou dinheiro para viajar”, afirma Bruno Carone, CEO do Férias & Co.
Trabalhar demais é uma das queixas mais frequentes que o oncologista Brandão escutou de seus pacientes.
“Muitos relatam que, ao refletirem sobre suas vidas, percebem que dedicaram uma quantidade desproporcional de tempo e energia ao trabalho, negligenciando suas próprias necessidades e as de suas famílias. Esse desequilíbrio muitas vezes contribui para o surgimento ou agravamento de problemas de saúde. A doença acaba sendo um momento de introspecção forçada, onde valores e prioridades são reavaliados”, diz. “Isso serve como um lembrete poderoso para a importância de buscar um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal”.
O conselho de Bill Gates
Priorizar o trabalho acima de tudo traz impactos nas outras áreas, como saúde mental e demais relacionamentos. O bilionário Bill Gates, cofundador da Microsoft, aprendeu isso da maneira mais difícil e compartilhou a experiente no discurso de formatura na Northern Arizona University, segundo reportagem da CNBC.
“Quando eu tinha a sua idade, não acreditava em férias. Eu não acreditava em fins de semana. Eu também não acreditava que as pessoas com quem trabalhei deveriam fazer isso”, disse o empresário. “Reserve um tempo para nutrir seus relacionamentos. Para comemorar seus sucessos. E para se recuperar de suas perdas. Faça uma pausa quando precisar. Acalme-se com as pessoas ao seu redor quando elas precisarem também”.
Ser feliz, segundo a autora Ware, depende também dos outros relacionamentos que vão além do trabalho, como dedicar tempo e atenção aos seus amigos e familiares, colocar os seus interesses em primeiro lugar e permanecer fiel a si mesmo. “A maioria das pessoas não percebe isso até que seja tarde demais”, disse ela em seu blog. “Muitos não perceberam até o fim que a felicidade é uma escolha”.
Fonte: Fanoticias