Segundo a polícia, suposto esquema de servidora que ganhava R$ 2 mil e ostentava vida de alto padrão teria usado VR de mortos e aposentados
São Paulo — Alvo de busca e apreensão em uma investigação sobre um suposto esquema de desvio de vale-alimentação na Secretaria Estadual da Educação, a servidora Driele da Silva Teixeira é suspeita de ter usado até os benefícios de colegas na pasta que já morreram. Ela é investigada por desvio de dinheiro e ter uma vida de ostentação, mesmo recebendo um salário de R$ 2 mil.
Há cerca de dez anos, Driele é responsável pelo gerenciamento de solicitações envolvendo o benefício do cartão-alimentação de servidores. A Controladoria Geral do Estado (CGE) apurou 28 casos em que os cartões receberam créditos mesmo após a desvinculação do funcionário, totalizando mais de R$ 41 mil.
Driele da Silva Teixeira atua na função na Seduc há cerca de 10 anos
Diversos depoimentos à CGE em um processo administrativo mostraram como o suposto esquema funcionava. Segundo esses relatos, tudo começou com a denúncia de um servidor que não recebeu o cartão mas estava sendo notificado de seu uso para compras.
Em meio às férias de Driele, sua substituta recebeu as reclamações do ex-servidor e tentou localizar seu cartão. Teve a ideia de procurar em um armário usado pela servidora. Lá, achou diversos cartões carregados com créditos posteriores às datas das exonerações dos servidores que deveriam ser seus donos.
Dois cartões de servidores falecidos receberam créditos e foram usados até tempos depois de suas mortes. Em um dos casos, o cartão de uma funcionária da pasta morta em 2023 recebeu R$ 12,2 mil, que foram gastos no mês seguinte. Os cartões dela e de outros dois funcionários foram usados em um mesmo período em Sorocaba, no interior de São Paulo.
Outra servidora faleceu em janeiro de 2023. Em setembro daquele ano, seu cartão recebeu um crédito de R$ 1 mil, valor que também foi usado em seguida. Há um caso de um aposentado de 2023 que tinha seus benefícios usados até o ano seguinte.
Incompatível com renda
A investigação levantou que “todos estranhavam a vida que a investigada levava, incompatível com sua renda”. O Portal da Transparência revela que, em abril de 2024, o salário bruto da servidora atingiu R$ 3.018,81 – enquanto o líquido ficou em R$2.070,46.
No Instagram, Driele se descreve como modelo, apaixonada por moda e viagem, personal stylist e influenciadora. Ela divulga fotos de viagens e frequenta lugares caros, como cruzeiros.
“É inconteste notar que Driele leva uma vida de ostentação, surgindo em fotos sempre muito bem arrumada, com roupas e bolsas aparentemente caras e na maioria das vezes em restaurantes ou praias”, diz a investigação.
A conta no Instagram da investigada, que foi tornada privada nesta quinta-feira (30/5), traz fotos e vídeos de viagens nacionais para destinos turísticos como Campos do Jordão (SP), Angra dos Reis (RJ), Trancoso (BA), Foz do Iguaçu (PR) e Florianópolis (SC).
Numa foto analisada pela investigação, Driele , aparece no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, portando uma bolsa da marca Christian Dior, “que ela fez questão de focalizar na imagem”.
O delegado da Polícia Civil Tiago Fernando Correia, responsável pela investigação, pediu o afastamento da servidora pública e a quebra do sigilo telemático (autorização para acessar o conteúdo dos aparelhos celulares, notebooks, CPU’s, pen drives e outros equipamentos eletrônicos).
O jornal mandou mensagem para a investigada e não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para atualizações.
Em nota, a Secretaria da Educação afirmou que atuou em conjunto com a Controladoria Geral do Estado na apuração de uma denúncia de irregularidades, e, após constatar o uso indevido do benefício de alimentação por uma servidora, a Seduc encaminhou os dados à CGE.
Os trabalhos seguem em andamento, diz a secretaria.
A CGE mantém a plataforma Fala.SP para o recebimento de denúncias, que podem ser feitas de forma anônima, completa a nota.
Fonte: Luiz Vassallo / Metrópoles